Carta aberta do Diretório Acadêmico de Ciências Sociais da UFBA aos corpos docente e discente sobre recentes manifestações na FFCH
Salvador, 24/04/2007
O direito à igualdade, sob cuja bandeira todas as revoluções da modernidade lutaram (e a batalha para tanto está longe de ser vencida), está sendo substituído pelo direito à diferença. O reconhecimento da diversidade e o respeito à diferença individual abrem o caminho para uma nova definição de solidariedade e coexistência centrada no respeito mútuo.
Alberto Melucci, sociólogo italiano contemporâneo.
Frente aos acontecimentos da semana anterior, na qual um movimento se levantou na FFCH, alegadamente, em resposta a um ato de racismo/ machismo, culminando em passeatas internas e externas à FFCH, faixa, panfletos apócrifos e injúrias a membros dos corpos discente e docente, esta entidade sentiu-se em seu dever de pronunciamento público sobre a questão.
Os movimentos negro e feminista são dignos de menção honrosa por este Diretório, pois muito tem contribuído, pela sua luta tenaz e abnegada na vida cotidiana e nas esferas propriamente políticas, para a radicalização da democracia formal que temos em nosso país repleto de injustiças históricas. Ademais, o próprio Diretório se fez e faz parte atuante destas lutas, nesta gestão, bem como em gestões passadas.
Uma das grandes conquistas passíveis de serem citadas é, indubitavelmente, a implementação das cotas raciais
Contudo, mais do que referente a tanto, as manifestações ocorridas na FFCH disseram respeito a um acontecimento nesta Faculdade. Sobre a questão e sem julgar o mérito do fato, uma vez que apenas uma das partes teve sua voz ouvida publicamente, a que, supostamente, foi a vítima, o Diretório Acadêmico de Ciências Sociais pronuncia-se.
A entidade representativa dos estudantes do nosso curso é sensível à luta dos movimentos sociais e suas causas, mas repudia veementemente quaisquer atos de intolerância e agressão, independentemente de quem os cometa. Seguindo sua vocação democrática, o Diretório considera que atos esparsos de violência não reparam a dívida histórica para com as mulheres ou para com o povo negro. Julgamentos sumários, sem direito à voz do “réu”, são típicos de regimes totalitários, dos quais buscamos distância. Ademais, a punição desproporcional de indivíduos não resolve problemas ligados à estrutura. A função moderna de uma punição é o exemplo à sociedade e não o martírio do condenado. Ainda podemos completar que a intolerância à opinião política do Outro a respeito do movimento, legítimo, do qual se faz parte apenas significa o desrespeito do direito à diferença de que nos fala Alberto Melucci na citação inicial desta carta. O acirramento da intolerância, como resposta ao racismo/ machismo estrutural em nossa sociedade, sem respeito à pluralidade de opiniões, nos leva a um crescente estado de tensão que pode culminar na impossibilidade da convivência entre as pessoas. A liberdade de expressão política é fundamental e é convivendo com esta – que, por sinal, foi conquistada pelos movimentos sociais – que os movimentos emancipatórios conquistarão suas metas.
Encerramos este comunicado afirmando, enfim, que a luta pela mais ampla radicalização da democracia continuará encontrando neste Diretório um irrestrito aliado.
Anderson Costa, Comissão de Combate ao Racismo
Fernanda Mendes, Comissão de Gênero
Felippe Silva Ramos, Comissão para Assuntos Políticos e Movimento Estudantil
Gestão Por um diretório Acadêmico! (2006-2007)
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Oi!
Me chamo Marcos e sou estudante de ciências sociais além de ativista do movimento anti-racista.
A respeito do posicionamento do D.A. CISO (gestão Por um diretório Acadêmico -2006/2007) assinado por Anderson Costa (Comissão de Combate ao Racismo), Fernanda Mendes (Comissão de Gênero), Felippe Silva Ramos (Comissão para Assuntos Políticos e Movimento Estudantil), gostaria de fazer algumas pequenas observações. Peço licença ao Diretório para citar fragmentos do seu texto.
Creio ser de suma importância que o Diretório, comprometido com a luta pela mais ampla radicalização da democracia pronuncie-se sobre o Ato feito pelos movimentos negro e feministas na FFCH dando voz, ou melhor, trazendo para a cena do debate político, sua perspectiva frente a esse Ato. Gostaria, contudo, de fazer alguns adendos à esse posicionamento a fim de que não incorramos em uma avaliação tão enviesada, como a que, ao meu entender, foi feita pelo Diretório.
1) A manifestação atípica (e de conhecimento público) do caro colega denunciado pelos movimentos negro e feministas, fere um dos princípios subjacentes ao espaço acadêmico: o respeito à divergência de opiniões. O colega, ao deferir palavras de baixo calão contra uma companheira de sala, vai de encontro à ética estudantil e à ética de um espaço de formação que é a Universidade. A omissão da docente que ministrava a aula no momento da agressão, também não contribui muito para a afirmação dessas éticas.
2) Mesmo diante dessa situação atípica, a colega agredida buscou a instituição FFCH, com o objetivo de formalizar a denúncia sobre o fato acontecido em sala de aula. Nesse sentido, vale ressalvar que o procedimento padrão (formalização da denúncia) não foi seguido devido à total desatenção, explicitado inclusive verbalmente, por parte dos representantes da instituição que se encontravam no momento da procura.
3) Concordo com a afirmação do D.A.CISO de que julgamentos sumários, sem direito à voz do “réu”, são típicos de regimes totalitários, dos quais buscamos distância. Por corroborar com essa assertiva, gostaria de indagar se a opinião do D.A. CISO, assim colocada, não estaria invertendo a pirâmide dos “réus”, uma vez que quem se omitiu ao debate foi a instituição e o colega agressor. Quiçá pelo ranço do racismo institucional ainda tão forte no seu espaço, a primeira mostrou-se indiferente frente a uma demanda como a denúncia de racismo; o último, o colega, se mostrou não muito afeito ao vocabulário polido. Acrescentaria ainda o D. A. cuja participação, até agora, se limitou ao posicionamento do blog.
Evidentemente a punição desproporcional de indivíduos não resolve problemas ligados à estrutura, todavia, acredito que mesmo com todas as contradições que abarcam, movimentos sociais (em suas mais variadas ramificações) possuem o papel pedagógico de requerer a reflexão da sociedade frente a situações de alienação. Seu papel histórico se enfatiza quando todas as outras vias (institucionais, dialógicas e afins) são negadas.
O educador Paulo Freire dizia que quando o oprimido reivindica sua humanidade negada pelo opressor, na verdade, ele possibilita ao opressor refletir sobre seu lugar na história, possibilitando-o, inclusive, (re) construir sua própria humanidade.
Que bom que essa temática vem sendo discutida em São Lázaro.
Marcos Paixão
Membro do NENU
Postei no orkut: Li cada postagem com severos cuidados! Soube do ocorrido e procurei maiores informações. Repito, li e conversei diretamente com pessoas que presenciaram o episódio nefasto e retruco com a máxima: FALTA DE EDUCAÇÃO É UMA COISA, COMPLETAMENTE, DIFERENTE DO QUE VENHA A SER RACISMO. Elísia quis promover-se à custa do cara e conseguiu, ao menos, um "ibope". Creio que as postagens aqui fomentadas não foram do seu agrado, claro; as pessoas são abalizadas e não devem agir SÓ POR IMPULSOS. Houve alguma queixa jurídica? Alguma denúncia formal aos órgãos competentes? Cadê a ação judicial contra o suposto racista? Militar a favor da causa é justo, mas, usar da causa NOBRE para promoção pessoal é algo que o MOVIMENTO NEGRO não precisa. E se o acusado quiser dar uma de vitimado? As postagens aqui seriam provas cabais. Bate boca é típico, e apropriado para as cervejadas em "Silvinha" (conheço muito o bar). Pelo que eu ouvi e li a maré poderá virar. Sou negro e sei quais são os meus DIREITOS E DEVERES, portanto, eu iria a uma Delegacia Policial, procuraria a OAB, Ministério Público e cobraria, sim, reparações. Sem falar das Secretarias estaduais e municipais... O que ocorreu em São Lázaro foi propaganda pessoal
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