12.9.07

O Senado sem credibilidade

O Senado acaba de absolver Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de quebra de decoro por ter se socorrido de Cláudio Gontijo, lobista da Construtora Mendes Junior, para pagar parte de suas despesas com a ex-amante, e mãe de uma filha dele, a jornalista Mônica Veloso.

Foram 40 votos pela absolvição, 35 pela condenação e 6 abstenções.

O processo contra Renan, condenado por 11 votos contra 4 no Conselho de Ética do Senado, arrastou-se por pouco mais de 120 dias. Foi conduzido pelo próprio Renan, que escalou a maioria dos membros do Conselho de Ética e interferiu em todas as etapas do processo.

Ele terá mais dois processos para responder - ambos por quebra de decoro. E talvez um terceiro.
Um tem a ver com a ajuda que ele teria dado à cervejaria Shincariol para que ela se livrasse de dívidas com o INSS. Em troca, a cervejaria comprou à família Calheiros uma empresa de refrigerantes falida. O relator do processo é o senador João Pedro (PT-AM).

O outro processo, ainda sem relator nomeado, tem a ver com a compra feita por Renan, em sociedade com o usineiro João Lyra, de um jornal e duas emissoras de rádio em Maceió. Renan é acusado de ter usado "laranjas" na operação.

Há uma terceira denúncia contra Renan que ainda não virou processo. O advogado Bruno Lins, afilhado de casamento dele, sustenta que Renan encabeçou um esquema de arrecadação de dinheiro em ministérios controlados pelo PMDB.
.
O que disseram os parlamentares à saída do plenário do Senado onde Renan Calheiros (PMDB-AL) foi julgado há pouco por quebra de decoro:

Tasso Jeireissati (PSDB-CE):
- O PT deixou em segundo lugar a instituição e em primeiro lugar a relação promíscuas entre os partidos.

Arthur Virgílio (PSDB-AM):
- A diferença (em favor de Renan) foram os seis votos safados pela abstenção. Seis votos calhordas de quem não tem coragem de absolver e nem de condenar.

Cristovam Buarque (PDT-DF):
- Renan se livrou com apoio do PT. O Brasil ficou menor, o Senado ficou menor e amanhã não sabemos o que será (do Senado).

José Agripino (DEM-RN):
- O Senado amarelou. Teve dificuldade de fazer aquilo que o Brasil queria.

Álvaro Dias (PSDB-PR):
- Eu acho que o PT foi essencial no resultado que deu a vitória a Renan hoje. Claro que nessa ocasiões sempre há solidariedade. O Senado tem sido um parceiro rela do presidente da República e essa hora deve ter recebido sua retribuição.

Deputado Fernando Gabeira (PV-RJ):
- É uma vergonha tudo o que se passou aqui.
- Suspeito que as abstenções tenham vindo de Roseana e José Sarney e do Senador Mercadante, que demorou tanto para se pronunciar.

Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE):
- O que me surpreendeu foi o placar. O PT que desequilibrou a luta e o resultado é desmoralizante.

Demóstenes Torres (DEM-GO):
- Renan só ganhou por causa das abstenções. A casa não vai prosseguir depois desse resultado. Daqui pra frente, não votaremos mais nada.

Ideli Salvatti (PT-SC):
- A bancada do PT votou dividida. A decisão é soberana. O parlamento optou por votar pela absolvição e isso tem que ser respeitado.

Wellington Salgado (PMDB-MG):
- O Senado saiu desgastado. Mas o resultado foi justo.

Almeida Lima (PMDB-SE):
- O Senado dá uma demonstração de força e mostra que não julga de acordo com pressões (externas).

Romero Jucá (PMDB-RR):
- Espero que a absolvição de Renan arrefeça o clima de tensão dentro do Senado.
- Não considero necessária a saída de Renan do cargo de presidente da casa. Ele continua na presidência e tem mandato para isso. Precisamos agora retomar o clima de trabalho e assentar a poeira.

Renan se livrou de perder o mandato por 40 votos a 35 e seis abstenções. Ele foi acusado de ter tido parte de suas contas pessoais bancadas por um lobista de uma empreiteira.

Indignado com o resultado de hoje, Cristovam Buarque promete convencer os senadores que votaram pela cassação de Renan a usarem um broche que conta o voto deles. O único receio é que mais de 35 coleguinhas apareçam com o tal broche preso ao paletó.
.
Sabe qual é a notícia mais lida no portal UOL nas últimas duas horas?

Não, não é aquela sobre a absolvição de Renan Calheiros pelo Senado. Essa é a segunda mais lida. É a notícia sobre a decisão da revista Playboy de fazer novas fotos da jornalista Mônica Veloso para sua edição de outubro.
.
"Foi uma vitória da democracia", diz Renan

Nota que Renan Calheiros, presidente do Senado, acaba de divulgar:

"O resultado da votação de hoje é uma vitória da democracia, mas é também o momento de refletir sobre as perdas que esse processo político provocou.
Nesses mais de 100 dias, muitos de nós perdemos algo. Eu perdi mais. Abri mão de momentos de convivência com minha família e amigos.
Mas confirmamos que, mesmo com eventuais injustiças e excessos inerentes ao processo democrático, é preciso acreditar nas instituições, fortalecê-las e não perder a confiança de que a verdade sempre prevalecerá.
Não guardo mágoa, nem ressentimentos. O único sentimento que me move é o do entendimento e do diálogo. Esse processo se encerra com a reafirmação do mútuo respeito e da serenidade que sempre caracterizaram a convivência política nesta Casa.
A partir da decisão madura e soberana do plenário do Senado, já comecei a procurar os líderes e presidentes de partidos para prosseguirmos na agenda legislativa que de fato interessa ao país, à população.
Não tenham dúvidas. Saberei corresponder aos anseios da instituição e aproximá-la cada vez mais da sociedade brasileira".
.
"Eu sei que nesta quarta-feira, quando o plenário do Senado votar pela cassação ou não do senador Renan Calheiros, vai haver uma morte. A morte política do próprio Renan, ou a morte política do Senado”
.
Fernando Gabeira (PV-RJ)
.
P.S. Impedida de transmitir a sessão secreta de julgamento de Renan Calheiros (PMDB-AL), a TV Senado exibe uma extensa reportagem sobre a produção bovina do país. Como nossos bois são criados. Quanto eles rendem em matéria de divisas para o país. Das vantagens de se investir em bois, etc e tal.
.
.
Fonte.