29.11.06

Reitor Naomar de Almeida apresenta Universidade Nova à FFCH

O reitor Naomar de Almeida esteve presente hoje à reunião especial da Congregação para apresentar o projeto Universidade Nova. Na ocasião, a representante do D.A. na Congregação, Priscilla Caires, leu a carta aberta redigida pelo diretório e que segue abaixo. Desde já, contudo, informamos que a posição definitiva do D.A. ainda não está tomada e só o será após amplo debate com o corpo discente. Na próxima semana será instalado o Grupo de Trabalho (GT) sobre Universidade Nova, a ser coordenado pela Comissão para Assuntos Políticos e Movimento Estudantil. Das discussões nestes encontros do GT deverá sair um outro documento do D.A. O GT é aberto e qualquer estudante interessado no tema pode participar. Mas lembramos a todos que é fundamental uma ampla participação, pois o assunto diz respeito a mudanças profundas na estrutura universitária. Segue a carta lida e entregue pelo D.A.:

Carta Aberta do Diretório Acadêmico de Ciências Sociais ao Magnífico Reitor acerca do projeto UFBA Nova


Salvador, 29 de novembro de 2006


O Magnífico Reitor Naomar de Almeida Filho vêm apresentando à comunidade universitária da UFBA um projeto de ampla reestruturação da arquitetura acadêmica da Universidade. A proposta - nomeada ?UFBA Nova? até ser abraçada por intelectuais, reitores de outras universidades e pelo próprio MEC, passando, então, a se chamar ?Universidade Nova? - tem como cerne a criação dos BIs (Bacharelados Interdisciplinares compostos por FG ? formação geral obrigatória e FD ? formação diferencial) com duração de 3 anos e grade curricular comum a todos estudantes. Após a conclusão do BI e a partir do coeficiente, pode-se ingressar ou não na formação profissional propriamente dita.

A proposta apresenta pontos positivos, por exemplo, ao adiar a escolha da carreira profissional por parte dos jovens que, ingressando cada vez mais precocemente na Universidade, acabam, não raro, a se descobrirem em cursos para os quais não possuem aptidão ou vocação. A proposta também acerta ao inserir a formação intelectual, cultural e questões éticas no currículo comum de todos os estudantes, visto estarmos em tempos de sociedade de massa, indústria cultural, instrumentalização do mundo da vida e colonização da sociedade pelo mercado, o que exige da Universidade a formação de indivíduos capacitados a enfrentar essas condições adversas.

Um ponto crítico, contudo, se deve ao fato de que, ao entrar na Universidade, os estudantes não terão certeza se sairão profissionalizados, uma vez que, terminado o BI, todos enfrentarão uma nova forma de seleção que determinará aqueles que continuarão o bacharelado profissional propriamente dito. Caso não consiga entrar no bacharelado profissional, o estudante sai da universidade como ?bacharel em área geral de conhecimento?, o que, convenhamos, não é muito atraente para o estudante, tampouco para o concorrido mercado de trabalho.

A forma de ingresso, nesse ponto, sendo via ENEM ou outra qualquer, não significa democratização do ensino superior, haja vista que o grosso do corpo discente apenas permanecerá durante o BI, ou seja, sairá sem completar uma profissionalização. Acrescente-se a isso as palavras do próprio reitor:

A concorrência certamente deve persistir na seleção para os cursos profissionais depois do BI, mas os candidatos já saberão do seu nível de desempenho e poderão se posicionar em cursos de acordo com os seus coeficientes de rendimento ou performance nos exames seriados.

(Disponível aqui)

O coeficiente como forma de ingresso ao bacharelado profissional perpetua o favorecimento de estudantes com anterior formação educacional privilegiada. Aqueles que, uma vez no BI, não conseguirem acompanhar o ritmo dos historicamente privilegiados terão, segundo o reitor, a possibilidade de se direcionarem para outros cursos, ou seja, notadamente os de baixo status social. Os cursos que apresentam alta competitividade continuarão sendo de difícil acesso. A questão das cotas se torna, então, premente: haverá realmente superação?

Outro ponto também extremamente discutível é a proposta de alteração da proporção professor-aluno (hoje em 1 para 12) para 1 para 60 nos BIs. As salas super-lotadas, similarmente aos cursos pré-vestibulares, afetariam diretamente o processo ensino-aprendizagem. Após o BI, a proporção voltaria a ser de 1 para 12, ou seja, muitos estudantes, necessariamente, não poderão cursar o bacharelado profissional.

Desta forma, destaca-se no texto apresentado pela Reitoria, uma separação evidente entre teoria e processo de implementação da mesma. Não restam dúvidas acerca da necessidade urgente de uma ampla reforma da arquitetura acadêmica da Universidade para que esta possa se inserir na contemporaneidade e, mais do que isso, possa estar à frente da construção de um projeto de sociedade justa e democrática. Os ensinamentos de Anísio Teixeira, dentre outros nomes que orgulham a memória nacional, devem, sim, ser guardados e atualizados. Contudo, não devem servir como discurso legitimador de uma reestruturação do modelo acadêmico que se configura, no mínimo, como apressada, pois não respeita o tempo característico do amplo debate democrático. Em questões de tal amplitude e profundidade, a eficiência (a pressa na aprovação do projeto) deve ceder lugar à reflexão conjunta.

Cabe à Reitoria fornecer o tempo suficiente para o aprofundamento da discussão democrática de tema tão importante. Torna-se, desse modo, inviável aprovar o projeto em março de 2007 ? inclusive devido ao encerramento das atividades letivas e às férias, o que impossibilita o debate no corpo discente - e implementá-lo já em 2008.1. Faz-se mister ampliar as discussões e é nesse sentido que o Diretório Acadêmico se posiciona desde já favorável à postergação de todos os prazos estipulados pela Reitoria acerca do assunto.