26.4.07

Carta aberta do Diretório Acadêmico de Ciências Sociais da UFBA aos corpos docente e discente sobre recentes manifestações na FFCH

Salvador, 24/04/2007

O direito à igualdade, sob cuja bandeira todas as revoluções da modernidade lutaram (e a batalha para tanto está longe de ser vencida), está sendo substituído pelo direito à diferença. O reconhecimento da diversidade e o respeito à diferença individual abrem o caminho para uma nova definição de solidariedade e coexistência centrada no respeito mútuo.

Alberto Melucci, sociólogo italiano contemporâneo.

Frente aos acontecimentos da semana anterior, na qual um movimento se levantou na FFCH, alegadamente, em resposta a um ato de racismo/ machismo, culminando em passeatas internas e externas à FFCH, faixa, panfletos apócrifos e injúrias a membros dos corpos discente e docente, esta entidade sentiu-se em seu dever de pronunciamento público sobre a questão.

Os movimentos negro e feminista são dignos de menção honrosa por este Diretório, pois muito tem contribuído, pela sua luta tenaz e abnegada na vida cotidiana e nas esferas propriamente políticas, para a radicalização da democracia formal que temos em nosso país repleto de injustiças históricas. Ademais, o próprio Diretório se fez e faz parte atuante destas lutas, nesta gestão, bem como em gestões passadas.

Uma das grandes conquistas passíveis de serem citadas é, indubitavelmente, a implementação das cotas raciais em nossa Universidade, o que significa o início de uma reparação sócio-racial que visa trazer a população negra e excluída (maior parte da população soteropolitana) para dentro dos muros tão excludentes da atual estrutura universitária brasileira. O movimento negro tem muito a fazer e vem fazendo para que essa conquista siga adiante, com a ampliação do programa de ações afirmativas com rubricas específicas para a permanência e assistência estudantil dentre outras demandas. Lembramos que uma conquista de direito sempre traz à tona a demanda por um outro, pois a dignidade humana ainda é um vir a ser, uma bandeira a ser tremulada.

Contudo, mais do que referente a tanto, as manifestações ocorridas na FFCH disseram respeito a um acontecimento nesta Faculdade. Sobre a questão e sem julgar o mérito do fato, uma vez que apenas uma das partes teve sua voz ouvida publicamente, a que, supostamente, foi a vítima, o Diretório Acadêmico de Ciências Sociais pronuncia-se.

A entidade representativa dos estudantes do nosso curso é sensível à luta dos movimentos sociais e suas causas, mas repudia veementemente quaisquer atos de intolerância e agressão, independentemente de quem os cometa. Seguindo sua vocação democrática, o Diretório considera que atos esparsos de violência não reparam a dívida histórica para com as mulheres ou para com o povo negro. Julgamentos sumários, sem direito à voz do “réu”, são típicos de regimes totalitários, dos quais buscamos distância. Ademais, a punição desproporcional de indivíduos não resolve problemas ligados à estrutura. A função moderna de uma punição é o exemplo à sociedade e não o martírio do condenado. Ainda podemos completar que a intolerância à opinião política do Outro a respeito do movimento, legítimo, do qual se faz parte apenas significa o desrespeito do direito à diferença de que nos fala Alberto Melucci na citação inicial desta carta. O acirramento da intolerância, como resposta ao racismo/ machismo estrutural em nossa sociedade, sem respeito à pluralidade de opiniões, nos leva a um crescente estado de tensão que pode culminar na impossibilidade da convivência entre as pessoas. A liberdade de expressão política é fundamental e é convivendo com esta – que, por sinal, foi conquistada pelos movimentos sociais – que os movimentos emancipatórios conquistarão suas metas.

Encerramos este comunicado afirmando, enfim, que a luta pela mais ampla radicalização da democracia continuará encontrando neste Diretório um irrestrito aliado.


Anderson Costa, Comissão de Combate ao Racismo
Fernanda Mendes, Comissão de Gênero
Felippe Silva Ramos, Comissão para Assuntos Políticos e Movimento Estudantil

Diretório Acadêmico de Ciências Sociais - UFBA
Gestão Por um diretório Acadêmico! (2006-2007)

25.4.07

Convite ao debate

O Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher - NEIM/UFBa, dando
prosseguimento as atividades do Programa Gênero em Debate, convida para a
conferencia:

"Homens e a ação pela equidade de gênero: praticas feministas entre jovens e
adolescentes" a ser proferida pela: Dra. em Demografia MARGARETE GREENE
Diretora do Departamento de População e Mudança Social do International
Center for Research on Women (Washington, D.C.) - Pesquisadora visitante do
NEIM no período de 1992/1993


Dia 26 de abril (quinta-feira)
das 09:00 ás 12:00
Sala Audio-Visual ( em frente ao NEIM) na FFCH/UFBa (Estrada de São Lázaro,
197 - Federação)

24.4.07

Aviso aos navegantes II - ERECS - Horário de saída!

A todos os tripulantes da delegação da UFBA rumo ao ERECS:
O ônibus sairá da Divisão de Transportes nessa quinta-feira (dia 26), MEIO-DIA!
Local: Entrada principal da UFBA, nas casinhas, ao lado do Banco Real, Caixa Econômica e BB. Onde ocorre a Calourosa. O ônibus sairá meio-dia EM PONTO.
Estejam lá, com o comprovante de depósito.
Detalhe: Lembrem-se da necessidade de contribuir com R$ 20,00, como "vaquinha", pois as diárias dos motoristas e o combustível da volta é por nossa conta.

Até lá!

Informes do DACISO

No dia 23/04/07, segunda-feira, os diretores do D.A se reuniram na Biblioteca Central da UFBA às 17:30h e algumas pautas foram discutidas, donde se informa:

1 - Periodicidade das reuniões ordinárias: foi decidido que serão realizadas reuniões ordinárias de 15 em 15 dias, que acontecerão em dias alternados, nas sextas às 15:00h e nos sábados às 09:00h, sempre na sala do DACISO. As reuniões extraordinárias terão que ser avisadas com 48h de antecedência, e os diretores executivos terão que mandar e-mail, telefonar ou mandar mensagem para o celular dos demais diretores. Depois do ERECS realizaremos uma reunião no dia 04/05/2007 (sexta-feira).

2 - Posição aceca das eleições do DCE: o D.A não fará campanha para nenhuma chapa, mas apoiará a mobilização em torno das eleições, ciente da importância da entidade representativa máxima dos estudantes da UFBA. O DACISO procurará a comissão eleitoral do DCE para construir e mobilizar para o debate entre as chapas na FFCH. É importante que os estudantes se envolvam em questões políticas referentes à nossa universidade. As datas ainda não estão definidas.



22.4.07

Reunião do DACISO

O DACISO se reunirá nesta segunda-feira, 23/04/07, às 16:30h, na Biblioteca Central da UFBA com a seguinte pauta:

  1. Reorganização da gestão (Executiva, Comissões)
  2. Periodicidade das reuniões ordinárias
  3. Viagem ao ERECS
  4. Busca de ônibus para a SBS
  5. Consulta sobre legalização das substâncias psicoativas
  6. Instauração do GT sobre UFBA Nova
  7. Balanço da Rifa
  8. Data para I Prestação de contas da Tesouraria
  9. Posição do DACISO acerca das eleições do DCE
  10. Posição do DACISO sobre denúncia de preconceito racial e de gênero no curso
  11. Construção do site do curso
  12. Camisas do DACISO (responsável pelas vendas e novas confecções)
  13. Programação e ajustes do I Seminário Político
  14. Campanha de comunicação do DA com os estudantes
  15. Programação da Festa Junina
  16. Estabelecimento de data para reunião da Comissão Estatuinte
  17. Discussão sobre o projeto da Revista Acadêmica (fonte de recursos: Cultura e Pensamento 2007)

A presença dos colegas é de suma importância para alcançarmos a gestão participativa que defendemos em campanha. Informe-se, empodere-se e contrua uma nova realidade para o nosso curso junto com o Diretório!

GT Universidade Nova

O Diretório Acadêmico iniciará nesta terça-feira, 24/04/07, às 9:30h na sala do D.A.CISO as discussões públicas acerca do projeto Universidade Nova com a instauração do Grupo de Trabalho (GT) sobre o tema.

O projeto apresentado pela Reitoria pretende modificar a arquitetura acadêmica da nossa Universidade e, até mesmo, da Universidade brasileira e, portanto, faz-se necessária uma ampla discussão e participação dos estudantes a respeito do tema.

A proposta do Diretório é realizar discussões abertas, democráticas e horizontais e, só após o amadurecimento da discussão entre os estudantes, apresentar sua postura política frente ao projeto; postura, esta, que deverá ser a de representar a ampla maioria dos estudantes do nosso curso. Para tanto, é de fundamental importância a participação de todos!

O Diretório disponibilizará os materiais necessários para a discussão na xerox da FFCH após a primeira reunião do GT.

Mais informações com Nelson Gonçalves (2006) - nelson_gm@hotmail.com, diretor para Assuntos Políticos e Movimento Estudantil do DACISO, ou diretamente através do e-mail do DACISO (ciso@ufba.br).

19.4.07

Aviso aos (futuros) navegantes

A todos que foram selecionados, e que viajarão quinta feira para Fortaleza:
Precisamos das cópias dos documentos até segunda-feira. RG, RM e CPF. Quem já entregou prepare as malas e coloque o comprovante de deposito e a cópia do e-mail de confirmação de inscrição dentro. Só entra no ônibus quem estiver com o comprovante e o e-mail de confirmação da inscrição!

Segue a lista dos selecionados, após reformulação, via novo sorteio (devido a desistências, impossibilidades...):

Andressa de Freitas Ribeiro
Ana Elisabeth Faro
Fabiana Paixão Viana
Gustavo Assunção Martins Costa
Nelson Gonçalves Machado
Antonio Rimaci Miguel Junior
Fernanda Nunes Sousa Mendes
Anderson de Jesus Costa
Hugo Prudente da Silva Pedreira
Thaíse Sá Santos
Fernanda de Carvalho Silva Faria
Greice Bezerra Viana
Débora Benvenutti
Tatiane Pereira Muniz
Lorena Rodrigues Vaz
Agrimaria Nascimento Matos
Rafael de Aguiar Arantes
Bruno Reis da Silva
Priscilla de Cássia Souza Caires da Silva
Luana Silva Bastos Malheiro
Fabiane da Silva Góes
Lais Moreira Cavalcanti
Criscely de Jesus Damasceno
Girlane de Souza Nunes
Elisangela Silva dos Santos
Fábio Peixoto Bastos Baldaia
Anna Raquelle Edington Anselmo Silva
Aline Cristina Santos Conceição
Renata Sá Mota
Fabrizzio Cedraz Gaspar
Gustavo Lopes Ramos
Egberto Magno dos Santos de Jesus
Ana Cristina Santos Souza
Rosana Carvalho Paiva
Nádia Souza Dias
Soraya Magalhães
Patrick Fernandes de Carvalho
Mário Coutinho Magalhães
Marcela Isis Machado
Gregório Maurício dos Santos Rocha
Cristiane Reis Lobo
Sara Braga de Malo Fadigas
Nara Haru de Souza
Moniele Nunes dos Santos
Jaqueline Cardoso Portela
Camila Loureiro de Souza Costa

Lembramos a todos , que será necessária uma reunião, antes da viagem, para acertarmos detalhes. Terça quem vem, às 3 da tarde, ou quarta às 9 da manhã. Comentem o post (proponham outros horários) e decidiremos pela maioria.

16.4.07

AOS SELECIONADOS PARA O ERECS - RM, RG e CPF

Precisamos do registro de matricula de todos, além do CPF e RG. Vamos tentar ligar para todos. Mas se puderem ir enviando para ciso@ufba.br, ajuda. Isso é muito importante. E não percam tempo, confirmem sua ida, pagando e fazendo a inscrição. Imprimam o e-mail de confirmação que vão receber. Ele será necessário, junto com o comprovante de depósito, para que se possa viajar. Aliás, sem o comprovante de depósito NÃO se consegue fazer o credenciamento lá em Fortaleza. Não percam e coloquem imediatamente na carteira, e coloquem a carteira dentro da mochila e a mochila pendurada na porta, pra não ter risco de esquecer.
E na reunião de quarta, levem cópias dos documentos.

15.4.07

Resultado da Rifa

O portador do bilhete número 342 é o ganhador do mp4 de 4 gigas de memória. Parabéns!

Com esta campanha o Diretório Acadêmico segue construindo sua política de financiamento a fim de levar a entidade a total independência e autonomia e possibilitar a realização de atividades, eventos, festas e viagens para todos os estudantes do nosso curso.

14.4.07

Ato Público marca lançamento do 2o Fórum Social Nordestino

Um ato público marca o lançamento da 2ª edição do Fórum Social Nordestino (FSNE), em Salvador. O evento acontece nesta segunda-feira (16/04), no Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves, Centro), das 10h30 às 12h30.

O Fórum, marcado para os dias 02 a 05 de agosto, será realizado nos campi da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na capital baiana. A proposta é reunir cerca de 12.000 integrantes de movimentos sociais em torno de debates, reflexões e trocas de experiências que contribuam para a construção de um Nordeste mais democrático e sustentável. O encontro é também uma oportunidade para dar visibilidade aos avanços, novas dinâmicas e pautas das lutas sociais na Região.

Criado em 2004, o FSNE é resultado da mobilização de movimentos sociais dos nove estados do Nordeste que, juntos, construíram e realizaram naquele ano o 1º Fórum Social Nordestino, na cidade de Recife. Após o evento, os comitês estaduais permaneceram articulados e promoveram encontros, seminários e videoconferências temáticas, tratando de questões de interesse dos movimentos sociais da região, a exemplo do projeto de transposição do Rio São Francisco.

Salvador foi escolhida cidade sede da 2ª edição do FSNE em novembro de 2006, durante encontro da coordenação colegiada e dos comitês estaduais. Os eixos temáticos do Fórum serão finalizados e acordados durante seminário interno da coordenação, marcado para os dias 14 e 15 de abril, em Salvador. O FSNE é um encontro preparatório para o Fórum Social Mundial (FSM), que reúne representantes de movimentos sociais de todo o mundo.

SERVIÇO:

O quê? Lançamento da 2ª edição do Fórum Social Nordestino (FSNE).

Onde? Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves, Centro de Salvador).

Quando? 16 de abril (segunda-feira), das 10h30 às 12h30.

MAIS INFORMAÇÕES:

- Rede de Educadores Populares do Nordeste

Contato: Cássia Margarete (71 9196-7787)

- Cáritas NE3

Contato:

Cátia Cardoso (71 3357-1667 / 8111-2604)

- Associação Brasileira de ONGs - ABONG

Contato: Damien Hazard (71 9185-1662)

- Fórum Social Nordestino - FSNE

Contato: Émerson Fontenelle (71 8896-4289)

- CIPÓ-Comunicação Interativa

Contato: Mônica Santanta (71 3240-4477 / R-205 e 206)

ERECS - Lista dos selecionados

Gustavo A.M. Costa*
Fernanda Mendes*
Nelson Gonçalves Machado*
Marcos Rogério Melo Costa
Criscely Damasceno
Elisângela Silva dos Santos
Fabiane Góes
Luciene Tavares Bonfim
Hidemi Soares Muyamoto
Agrimaria Nascimento Matos
Antonio Rimaci Miguel Júnior
Rosana Carvalho Paiva
Greice Bezerra Viana
Tatiane Pereira Muniz
Luna Silva Matos
Lorena RodriguesVaz
Marcela Isis Machado
Fabiana Paixão Viana
Renata Sá Mota
Ana Cristina Santos Souza
Nádia Souza Dias
Rafael de Aguiar Arantes
Ladjane Alves Souza
Fábio P. S. Baldaia
Rafael Camaratta Santos
Luana Bastos
Inajara Diz Santos
Laís Monteiro Cavalcante
Wagner Carlos Vieira de Carvalho
Sara de Arújo Pinto
Bruno Reis da Silva
Mário Coutinho Magalhães
Sarah Nascimento do Reis
João Rodrigo Santana
Michel Santos de Brito
Amanda Santos Silva
Priscilla de Cássia S. Caires da Silva
Andressa Ribeiro
Anna Raquele Edington Silva
Jamile Silva Guimarães
Fabrizzio Cedraz Gaspar
Débora Benvenutti
Fernanda Faria
Anderson de Jesus Costa
Patrick F. de Carvalho
Hugo Prudente da Silva Pedreira
Girlane de Sousa Nunes
Camila Cestari Cerreti

*Comissão organizadora.

Por favor, confirmem a ida até segunda feira. Vejam as instruções no site do evento, para a inscrição: www.erecs2007.cjb.net
E está marcada uma reunião com TODOS os selecionados para quarta-feira, as 10 da manhã, em S. Lázaro, na sala do DA (inicialmente...depois procuramos uma sala).

9.4.07

ENQUETE DA SEMANA - O DACISO QUER SABER...

Resultado da enquete anterior:

a) 00 votos (0,0%)
b)
05 votos (45,45%)
c)
06 votos (54,55%)
d)
00 votos (0,0%)
e)
00 votos (0,0%)

Você pode dar sua opinião sobre enquetes passadas, mas as opiniões não serão mais registradas na estatística semanal.

Enquete da semana:

A ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir), diz:

"
A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou".

Você:

a) acredita que a afirmação procede e a ministra apenas está fortalecendo a identidade do negro e reparando uma dívida histórica também no plano discursivo - a dominação ideológica branca;

b) acredita que a afirmação apenas alimenta clivagens de raça e que a função da ministra é promover a igualdade e não a institucionalização da desigualdade;

c) acredita que a afirmação foi distorcida pela imprensa que não se preocupou em contextualizar o discurso da ministra;

d) acredita que a ministra se equivocou, mas que, de modo geral, o fato foi super-dimensionado como reação conservadora às políticas de ações afirmativas levadas a cabo pelo governo;

e) acredita que a ministra nem sequer representa o povo negro e, portanto, a discussão é irrelevante e mera manipulação.

Lembre-se que você deve postar o voto na seção de comentários logo abaixo. Identifique-se com nome e ano de ingresso no curso (a identificação é opcional e a postagem pode ser anônima). Indique claramente qual alternativa e justifique a resposta, se quiser. Até a próxima segunda!


Esquecimento da Política

SALÃO NOBRE DA REITORIA DA UFBA
Dia 16 . Franklin Leopoldo e Silva - Moralidade como política


ANFITEATRO ALFREDO BRITTO
Faculdade de Medicina da Bahia UFBA

Dia 17 . Marcelo Jasmin - Por que República?

Dia 18 . Renato Lessa - O Esquecimento desde a tradição

Dia 19 . Newton Bignotto - Uma sociedade sem virtudes

Dia 20 . Sergio Paulo Rouanet - Religião e Esquecimento da Política

Curso de extensão universitária reconhecido pela
Universidade do Estado da Bahia


Clique aqui para obter mais informações sobre o ciclo

Inscrições

71-32327823 e 71-33629902
faseccultural@ yahoo.com. br


R$10 para todo o ciclo ( R$5 estudantes )


No dia 16 de abril, às 19h, antes da conferência de abertura do ciclo,
no Salão Nobre da Reitoria da UFBA, acontecerá a cerimônia do lançamento nacional do
PROGRAMA CULTURA E PENSAMENTO 2007
com a abertura das seleções públicas de projetos de debates.

7.4.07

SARAU!!!!!!!!!!!!!!

Cliquem na imagem para vê-la ampliada!

2.4.07

ENQUETE DA SEMANA - O DACISO QUER SABER...

A cada segunda-feira o DACISO colocará uma enquete. Respondam no espaço de comentários. Escolham a alternativa e coloquem no início da resposta para que possamos fazer a contabilização. Posteriormente à indicação da alternativa serão bem vindos comentários adicionais sobre o tema em questão, justificando a resposta. Coloquem o nome (opcional) e o ano de entrada no curso (se forem do curso). Se não forem do curso de Ciências Sociais da UFBA, uma identificação será bem vinda.

O Reitor Naomar de Almeida tem apresentado à comunidade acadêmica e política o projeto Universidade Nova. Você:

a) Concorda com o projeto, pois a estrutura acadêmica atual não responde mais à realidade social e o projeto da Reitoria resolve, pelo menos em parte, a situação;

b) Discorda do projeto, pois ele não resolve os problemas estruturais da precariedade da nossa Universidade e ainda traz mais problemas;

c) Concorda em parte e discorda em parte. O projeto tem pontos positivos e negativos e o melhor que a Reitoria pode fazer é privilegiar o debate democrático sobre o tema;

d) Não conheço o projeto, pois este é demasiado inacessível;

e) Não me interesso pelo tema.

O Capital contra a Democracia

Francisco de Oliveira

Do liberalismo à social-democracia: a desprivatização da democracia

Qualquer que tenha sido a transmissão da idéia de democracia dos gregos para o Ocidente que se tornava capitalista – e o colonialismo tornou-o um sistema mundial – a democracia moderna desde logo já não correspondia exatamente ao governo de todos. O caráter intrinsecamente concentrador do novo sistema propõe imediatamente uma assimetria de poder entre os cidadãos que dificilmente traduz um governo de todos. E a separação que o liberalismo operou entre o poder político e o poder econômico, revolucionária para um mundo saído do feudalismo, cria um poder privado, o econômico, cuja gestão é retirada do cidadão comum. É verdade que ainda se pode encontrar reverberações da concepção democrática da igualdade nos fundamentos do liberalismo econômico: por exemplo, a concorrência perfeita, o modelo mais resistente na história da teoria econômica – dissemos “modelo” - construiu-se sob o principio de que nenhum dos atores teria influência sobre os preços, ao ponto de ter poder de mercado suficiente para afastar os demais competidores.

Mas a compra e uso da força-de-trabalho ao bel prazer do comprador – o uso de seu valor-de-uso - constituiu-se, desde logo, numa transgressão da regra democrática da liberdade dos cidadãos, a não ser que uma delirante concepção veja exercício da liberdade nas longas e extenuantes jornadas da Inglaterra descritas por Dickens e Engels.

Assinale-se, também e preventivamente, que a convivência da democracia com o capitalismo tem sido gravemente conflituosa. Tirando o caso inglês, em que não se anota um conflito de gravidade – mesmo na II Guerra Mundial, com Londres sob bombardeio, o regime democrático logrou resistir aos não-poucos apelos autoritários, diz-se inclusive com a adesão do então Príncipe de Gales, que teria sido o rei não fosse seu casamento com a divorciada Wally Simpson- todas as demais tombaram alguma vez sob a pressão dos interesses econômicos engolfados em estratégias imperialistas. Mesmo os USA passaram pela terrível Guerra de Secessão, depois da qual a democracia norteamericana mantêm-se não sem graves problemas de baixa adesão popular. Há muitos “tiros em Columbine” que revelam a gravidade desses conflitos. A história européia, com a solene exclusão da Inglaterra já citada, mostrou a incapacidade do sistema democrático em fazer frente às conjunturas excepcionalmente tensas.

A democracia é o sistema de governo da maioria, assegurados os direitos da minoria, mesmo porque na Grécia de Péricles essas posições podiam mudar, dependendo do assunto tratado, e não convinha ofender os direitos dos cidadãos das minorias, porque isto representaria uma desqualificação para participarem do governo da cidadania. O sistema foi concebido exatamente na perspectiva de mudanças de posições, sem o que não faria o menor sentido: congeladas, fixas e imutáveis maioria e minorias, dificilmente se poderia falar em democracia. A democracia moderna colocou no lugar dessas mudanças a rotatividade dos mandatos, para criar a possibilidade de novas maiorias e minorias, e a alternância no poder.

A nova estruturação da sociedade em classes virtualmente impede as mudanças de lugares entre maiorias e minorias, porque cria lugares fixos na estrutura social cujos interesses dificilmente podem formatar-se em consensos habermasianos, isto é, na pressuposição da boa intenção e do terreno comum que cria a possibilidade da comunicação. A invenção democrática da tradição ocidental criou mecanismos que procuraram escapar a essas restrições/transgressões: a representação como substituto da democracia direta, os partidos políticos como aglutinação de vontades e veiculação de interesses, em suma a política como possibilidade de correção das assimetrias de poder criadas pelo modo capitalista de produção. Pelas mãos de Gramsci, já adiantado o século XX, formulações originárias de Maquiavel indicaram a formação de consensos fundamentados no dissenso: a hegemonia é essa figura contraditória da dominação que torna os interesses de algumas classes o terreno sobre o qual se produz o consentimento. Inspirado na A Ideologia Alemã, a correção operada pelo “pequeno grande sardo” tem a originalidade de abrir para as contra-hegemonias, não decretando a imutabilidade da ordem constituída, exatamente através de suas contradições.

Como já se assinalou, o liberalismo separou as instâncias do poder econômico e do poder político, numa operação de alta sofisticação, pela qual se evitava justamente a concentração de poderes característica do feudalismo. Um enorme avanço revolucionário. Mas ao mesmo tempo et pour cause retirou da arena pública os negócios privados: a teorização econômica pelas mãos de Smith, Ricardo, Mill, Bentham e todos seus sucessores, Weber mui posteriormente no terreno da sociologia, criou esferas autônomas de interesses, que se regularam a partir de seus próprios pressupostos. A cisão das ciências morais, das quais nasceu a economia política, apartou, desde o inicio, os procedimentos privados como pertencendo à esfera exclusiva dos próprios interessados, separando-os dos assuntos públicos. Uma contradição em termos, posto que o emprego da mão-de-obra publiciza imediatamente, pois que tem a ver com a liberdade do outro. Mas a ciência econômica asséptica proclamou a imunidade dos negócios privados ao olhar público e a impunidade das transgressões.

A construção das organizações dos trabalhadores, seus sindicatos e seus partidos políticos, opôs-se à ditadura da empresa e à não-publicização do conflito de interesses entre o capital e os trabalhadores, reinventando a democracia. Não à tôa, os partidos nascidos da classe trabalhadora denominaram-se, desde o princípio, social-democratas, e somente depois da obra de auto-construção dos próprios trabalhadores – o making do título da obra clássica de Thompson – estes se propuseram seus próprios objetivos, o socialismo e o comunismo. Apenas com a criação dos partidos da classe trabalhadora o principio da alternância no poder, o equivalente da formação ad hoc das maiorias e minorias da Ágora grega, chegou a ser real na política do Ocidente capitalista. Pode-se dizer sem nenhum sectarismo, que a democracia, tal como a conhecemos, foi praticamente reiventada pela luta de classes em sua forma política.

Mas foi preciso a maior crise da história do capitalismo, a Grande Depressão dos anos trinta, para que a publicização dos conflitos, até então assunto privado na relação capital-trabalho – inclusive na acepção de Marx, pois os trabalhadores são donos de sua força-de-trabalho – formasse uma nova arena pública de conflitos e transitasse para as instituições democráticas do Estado contemporâneo; o canal exclusivo do privado tornou-se insuficiente para processar a enorme contradição da formidável destruição de capital, e a publicização tornou-se estrutural à sua produção e reprodução. A regulação dos salários deixou de ser um atributo do mercado, mesmo que nele estivessem incluídos os sindicatos de trabalhadores, para constituir-se no principal objetivo das políticas econômicas do Estado moderno, e num trânsito ainda mais radical, elemento dessa regulação, as carências transformaram-se em direitos (François Ewald), desmercantilizando, parcialmente, o estatuto real da força-de-trabalho. Foi o ponto mais avançado da democratização alcançado nas sociedades capitalistas, tanto as do núcleo central quanto das periferias, estas ainda guardando marcas muito fortes de uma ainda não total mercantilização da força-de-trabalho, o que restringia a cidadania. A centralidade do trabalho nestas sociedades alargou o âmbito dessa democratização, ampliando o leque dos direitos. Então, as políticas ligadas ao trabalho universalizaram-se e projetaram-se para o conjunto das populações.

Da social-democracia ao neoliberalismo: a reprivatização da democracia

O movimento dialético que fundou o anti-valor como negação da mercadoria ampliou a força da organização dos trabalhadores até o ponto de disputar a destinação do excedente no capitalismo, medido pelos coeficientes da despesa social pública sobre o PIB. Hayek já havia antevisto esse momento em suas perorações de Mont Pélérin e no seu O Caminho da Servidão. Este foi o ponto de inflexão do conflito que, talvez por ironia da História, tenha começado também na Inglaterra. Mas como Marx havia dito De Te Fabula Narratur, a reversão espraiou-se por todo o sistema capitalista. Entrava em ação um movimento de re-privatização da democracia. Mrs. Tatcher guarda para si o duvidoso galardão de ter inaugurado esse período. Qual é a dinâmica desse movimento, de onde ele extrai sua força? Certamente ela não se deve ao estilo “bolo de noiva” dos trajes e penteados da Dama de Ferro, clone, aliás, de Sua Majestade.

Mas a formação do fundo público liberou o capital dos constrangimentos que lhe impunha a força-de-trabalho como mercadoria, e soltou as forças da caixa de Pandora da nova potência de acumulação. Pela negatividade, caía por terra definitivamente a teoria do valor-trabalho ricardiana, em que este comparece como um custo de capital. Uma acumulação de capital poderosa entrou em ação, a partir da combinação “virtuosa” das políticas anti-valor com a riqueza pública transformada em pressuposto da produção de valor. Os Trinta Anos Gloriosos foram a onda mais larga de expansão do capital, se quisermos usar por analogia os termos de Kondratiev. As formas técnicas da acumulação de capital ultrapassaram a materialidade das coisas para transformarem-se numa coisificação virtual, cujo poder de plasmar a vida humana ultrapassa todos os limites. É, ao mesmo tempo, um limite nunca antes alcançado do fetiche da mercadoria e da possibilidade de sua anulação. Trata-se de um conflito de classes de dimensões planetárias. Sua primeira expressão é de intensa regressividade e sua segunda dimensão depende inteiramente da capacidade que as classes sociais revelarem de apropriarem-se de sua potência, qual novo Prometeu.

A regressividade aparece radicalmente na dissolução da dimensão do tempo e leva de cambulhada o contrato mercantil como temporalidade, uma das bases para o estabelecimento do estatuto da mercadoria; para Marx, o valor é em primeiro lugar a quantidade de tempo de uso da mercadoria força-de-trabalho. A temporalidade é substituída por uma estrutura atomística do trabalho: trabalho em redes, trabalho em células, trabalho abstrato virtual levando ao paroxismo a intercambialidade entre os mônadas que carregam sua força-de-trabalho. Um poderoso aumento da produtividade do trabalho, multiplicado pelas novas formas técnicas da acumulação de capital, no centro não tanto suprime o emprego assalariado – estes são ainda a maioria – mas modifica-lhes o processo de trabalho. O outro lado dessa medalha é a dissolução de todas as identidades formadoras das classes, realizando o programa de Mrs. Tatcher: não há sociedade, somente indivíduos. Ultrapassando a Dama de Ferro: tampouco há indivíduos, apenas células simples, átomos de valor que, como no modelo atomístico, são recombináveis.

Deve ser dito, não apenas de passagem mas como elemento coetâneo e constitutivo dessa transformação, que a assimetria de poderes na democracia contemporânea exponenciou-se por uma potência “n2”. Em primeiro lugar, enquanto para os trabalhadores a estruturação atomística lhes diminui, anula e mesmo elimina suas organizações que um dia puderam contrarrestar a assimetria originária, para o capital as empresas agigantaram-se e operam também em redes, mundializaram-se. Os processos de concentração do capital estão no centro dessa tendência, enquanto a centralização opera a globalização. A relação de forças entre uma empresa como a Microsoft e seus trabalhadores não cabe em nenhum paralelograma; mesmo em relação aos Estados nacionais a assimetria tornou-se quase irreparável. Neste momento, a Microsoft desenvolve uma luta contra governos de Estados nacionais que ousaram utilizar sistemas livres de software, como o Linux, e até o Estado norteamericano enfrenta dificuldades para enquadrá-la nos termos das leis de proteção à concorrência.

O poder de classe das empresas aumentou, de novo é obrigatório repetir, de forma exponencial: elas controlam milhares de trabalhadores em todo o globo e, medido pelo critério da distribuição funcional da renda, entre 60 a 70% do PIB é renda do capital (lucros + juros), enquanto a era de ouro do Welfare a havia reduzido a menos de 50% fazendo a renda do trabalho alcançar mesmo 70% do PIB nos poucos casos dos países nórdicos.

Então a assimetria das relações entre o poder econômico e o poder político ampliou-se extraordinariamente, tornando quase caduca a separação das esferas. Com algum exagero – e esta é a forma de dizer-se o que a ciência ainda não sabe medir – provavelmente estamos de volta à concentração de poderes feudais: o econômico, o militar, o político, o social. Mais: as empresas são, agora, o poder político e na clássica divisão de poderes entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, assaltam e preenchem todos os lugares. Dois processos em curso, a desterritorialização da política e a juridificação da mercadoria, transformam as empresas nesse novo Senhor Feudal. Transcendem as fronteiras nacionais e mais: colocam-se no lugar dos poderes nacionais. FMI e OMC são os símbolos dessa desterritorialização. A Monsanto e sua posse das sementes transgênicas é o emblema da mercadoria que carrega consigo sua própria lei.

Transformam-se em operadores do social: aviso às ONGs que promovem este evento. Não por trás, mas à vista de todos, imprime-se aos programas e políticas sociais a marca do mercado. As ONGs que surgiram para vocalizar conflitos que um sistema petrificado não tinha como enunciá-los, são clonadas em organizações empresariais cujo objetivo é reducionista. Mesmo o mais bem intencionado programa tem como divisa o mercado: o pai que não mandar o filho à escola, tendo recebido uma bolsa-escola, perderá a bolsa. Ou a vida? Um juiz em São Paulo, nos dias que correm, ordenou ao Unibanco que arme sua própria milícia para cuidar das terras que são ocupadas pelo MST, e justificou que o Estado não tem recursos para tanto.

No terreno da cultura, então é quase covardia falar-se. Não há praticamente nenhuma atividade cultural que não seja patrocinada, e o patrocínio transforma-se em marca. O MacDonalds, como sempre, está à frente: seu mais recente bordão publicitário é “Amo muito tudo isso”, mas não é a comida o objeto do amor, que franceses, italianos, brasileiros, não somente entenderiam, como concordariam: é a marca, esse não-obscuro objeto do desejo, na interpretação de Buñuel-Isleide Fontenelle. Sem nenhum reproche: onde não há Banco do Brasil e Petrobrás, não há cultura.
A hegemonia, processo pelo qual o dissenso era um elemento insubstituível da estrutura do consenso, tornou-se transparente: a empresa assumiu esse lugar, tornou-se hegeliana. Ela é a sociedade civil. A empresa faz política e a grande empresa é a política. Que o digam todos os financiamentos de campanhas políticas e de políticos. Que o digam todos os conselhos onde só se assentam “representantes” das classes “produtoras”. No COPOM estão banqueiros, e sequer um simulacro de “representação” de trabalhadores. Como diz Paulo Arantes, já não há nem ideologia: o vício já não necessita render homenagens à virtude.

As conseqüências para a democracia são devastadoras. Se na tradição do Ocidente capitalista esta padeceu, desde seus primórdios, da contradição entre a maioria da pólis e a minoria do poder econômico, este subtraído às decisões da maioria e rigorosamente privatizado, esta contradição agigantou-se de modo a sufocar a democracia e quase anular a política. Aqui não se trata apenas da dimensão quantitativa dessa assimetria, já de si importante. Mas da nova qualidade dos processos da acumulação de capital. Esta suprime o outro do capital, o trabalho. Como mercadoria dimensionável, uma não-forma, apenas uma virtualidade.

As “afinidades eletivas” do trabalho são eliminadas e em seu lugar restam apenas as propriedades dos elementos atomísticos, recombináveis. A democracia, por certo modernamente ancorada na materialidade da divisão social do trabalho e na sua centralidade, é uma escolha ética. Por extensão, a sociedade já desapareceria nesse andamento, mas há mais: o capital, na forma da empresa, ocupa todos os lugares sociais, e então chega-se ao paradoxo da “sociedade anônima”. Não há mais sociedade, só há mercado. Este é a política e esta é o mercado. A pólis supõe uma forma, e o mercado é a não-forma. Ele é, por definição, a descartabilidade em ato, e antagônico, por isso, à institucionalização das formas. Sem o que não há política. E sem esta não há democracia. É do fundo do seu processo que o capital se coloca contra a democracia.

Todo esse processo gera o oposto do desencantamento do mundo à la Weber. As relações entre as classes parecem desaparecer, sublinhado, tornando impossível, na pista do mestre de Weimar, a ação racional com sentido. As relações tornam-se opacas, intransparentes. O fetiche alcança sua máxima expressão: é um mundo que opera com signos, sem contacto com o real. A política, neste caso, torna-se, necessariamente, um espetáculo, e deixa de ser operada pelos cidadãos. Não é de individualismo que se trata, mas da atomização. As classes sociais desfazem-se na bruma espessa das recombinações que parecem aleatórias, mas são, na verdade, dirigidas pelo “piloto automático” do capital.

O outro do falso: a democracia no Brasil

Todas as poderosas tendências interpretadas abatem-se com fúria nas periferias capitalistas, e o Brasil está profundamente imerso nelas. Tendo como lastro de sua atualização uma herança pesadamente anti-democrática, a sociedade brasileira é jogada no novo turbilhão por uma aceleração sem precedentes da acumulação de capital à escala mundial. Mundializando-se agora para tentar crescer economicamente, inviabiliza-se como nação, como economia e como sociedade. O tempo prestisimo do capitalismo mundial já havia obrigado a uma compactação formidável de tempos, desde os anos Trinta. Em cinqüenta anos de industrialização, trinta e cinco de regimes despóticos em que a correlação entre mundialização e regimes de exceção não necessita ser exagerada: taxas de crescimento de 8% ao ano. A dívida externa é a prova que não falta: a de que, nesta aceleração, a capacidade interna de acumulação será sempre insuficiente. O suplício de Sísifo é permanente, já que partimos da democracia grega: quanto mais tentarmos crescer, tanto mais deveremos. Nestas condições, a soberania é trocada, atualizando-se a história de Esaú, por um prato de celulares: 9% do PIB como pagamento de juros da dívida externa. A combinação do aumento da produtividade do trabalho e a financeirização, expressa pelas altas porcentagens das dívidas externa e interna sobre as despesas estatais e o PIB, mostram que em se fazendo um enorme esforço para seu pagamento, não aumentam nem o investimento nem o emprego. Então, a desterritorialização da política afirma-se taxativa e implacavelmente: as políticas são impostas pelas entidades supranacionais, e retiradas do âmbito da cidadania; 145 bilhões de reais para pagamento dos juros da dívida interna, isto é, cerca de 10% do PIB para um coeficiente de investimento que não chega a 20%; este serviço da dívida corresponde a uns 30% das despesas orçamentárias e é igual à soma de todos os gastos com políticas sociais!

Da plataforma da desigualdade histórica, anti-republicana e anti-democrática, uma nova e intransponível desigualdade se “alevanta” – desculpe Camões, por utilizar seu belo e arcaico verbo -: 60% da PEA se ocupa de tarefas “informais” – agora o substantivo não engana: destituído de formalidade, pelo bom Aurélio, sem-forma – onde sequer o contrato mercantil existe. Não juridificável, enquanto no ano de 2003 cresceu em 5% o número de novos milionários, sobre uma taxa de crescimento global de –0,2. Reclame para o bispo, dizia-se na sociedade colonial. E agora? Uma mercadoria não-juridificável: o que é ? O narcotráfico. Como se cobra uma dívida injuridificável? Pela violência física, Rocinha e Casa de Custódia.

A mundialização passou como um trator pelas relações penosamente construídas. Categorias inteiras sumiram e outras foram reduzidas à impotência, pela combinação da mundialização e da reestruturação produtiva. Os novos processos de trabalho, redes e células, des-socializaram as categorias reformatadas, para as quais o sindicato como organismo de classe simplesmente não existe. 20% de desempregados na maior cidade se desalentam na longa espera. Que classe social pode resistir à essa devastação?

A política se desfez como relação entre classes, antes que como institucionalidade: esta vai bem, dizem os otimistas, pois a ditadura saiu de cena há exatos vinte anos e desde então quatro eleições diretas para a presidência se sucederam, sem tropeços nem espasmos. Mas que resta da política como “reivindicação da parte dos que não têm parte”, como ensinou Rancière?

Um Estado de Exceção. Todas as políticas do Estado são de exceção: Bolsa-Família, por reconhecer que o salário é insuficiente, mas não pode ser aumentado; vale-gás, por reconhecer que o gás de cozinha é insubstituível, mas não se tem dinheiro para comprá-lo; bolsa-escola, para melhorar o salário insuficiente e lograr evitar a evasão escolar, que ao mesmo tempo pode punir o pai que não manda o filho à escola; fome-zero, por reconhecer que não se pode zerar a fome. Vale-transporte já vem de longe. E o salário-mínimo não pode aumentar porque arromba as contas da Previdência.
As relações entre as classes se esbatem contra o muro da enorme desigualdade. Nestes dias, a Folha de S.Paulo noticiou algo sobre a casa de conhecido banqueiro, no Morumbi, cuja obra está sendo embargada pela Justiça, por demanda de um vizinho. Metragem da obra sob embargo: 7.500 m2, equivalente a 200 casas/apartamentos populares de 37,5 m2. Não muito longe dali, outro poderoso Midas tem casa com teatro/cinema para 100 convidados. O que há de comum entre esses cidadãos, que pode fazê-los habitantes da mesma pólis? Nada, Péricles.

A ameaça à democracia no Brasil não vem da falta de institucionalização, da permanente tutela das Forças Armadas que foi um longo pesadelo talvez afastado para sempre, de insurreições e rebeliões, de partidos e formações políticas autoritárias, à esquerda como à direita – neste caso sempre foi a direita vivandeira de quartéis, à frente a triste UDN -. Agora ela provém do núcleo mais duro do capitalismo globalizado com sua incoercível tendência a avassalar o Estado, a dilapidar as relações entre as classes, a tornar intransponível a desigualdade, retirando o terreno comum de interesses e aspirações capaz de construir a comunicação e o consenso pelo dissenso; no passado, muitas das crises e das impossibilidades da democracia no Brasil deveu-se à disputa de sentido e da hegemonia sobre o projeto nacional. Agora, as burguesias abandonaram a utopia de uma nação e, portanto já não disputam nada com as classes dominadas: apenas deixam à incapacidade do Estado exercer o último de seus atributos, o poder de polícia, mesmo este fortemente abalado pela crise financeira do Estado, entre Rocinhas e Casas de Custódia. Parte importante das classes dominadas, sobretudo o operariado assalariado, devastado pelo desemprego e pela reestruturação produtiva, deixou apagar-se o fogo que roubou nas décadas da ditadura: agora contentam-se com diretorias de estatais e de fundos de pensão; o imenso exército “informal” não contesta as classes dominantes: trabalha na aparência de que seus adversários são os consumidores. Com o abandono da política pelas classes dominantes, os dominados são, paradoxalmente, enclausurados no âmbito da política institucional, dos partidos, e aprendem os malabarismos recorrentes da dominação. Mas a política “policial”, no dizer de Rancière, é irrelevante.

A política rola sem atritos, numa funda indeterminação de classes dado o terremoto do período neoliberal. Desta vez, tem-se tudo para falar-se propriamente de populismo, não como uma autoritária inclusão da classe operária na política, mas como sua exclusão. As lideranças populares mais eminentes vêem-se obrigadas a saltar os muros das organizações partidárias, que já não representam nada, e falar diretamente ao povo: é este tipicamente o caso da Venezuela, mas as experiências brasileira e argentina não estão muito longe disso: as políticas estatais de exceção são a impotência da política e a concretude do populismo como forma na ausência de formas. Um exercício do poder que não afeta em nada os interesses dominantes: brincam de política, ou de “fazer casinhas” na expressão de Vera da Silva Telles.

Muito pessimismo e argumentação economicista. A política e a democracia não são a negação do domínio do econômico, não se constituiram assim na história do último século? Perdão: aqui do que se trata é que a dinâmica do capitalismo globalizado anulou a autonomia das esferas. Além disso, na minha tradição teórica, a economia política é a anatomia da sociedade. Se quisermos fazer uma ciência social à la americana, sem determinações recíprocas entre as diversas esferas, poderemos até ver virtude numa “sociedade civil” que institui “segurança” nos morros do Rio e nas imensas Heliópolis – veja-se o sarcasmo da denominação grega – de São Paulo. Não é o meu caso; chamem Duda Mendonça. A obrigação da ciência social é perscrutar, com a paciência – e a indignação – de Sherlock Holmes a quem interessa essa desolação. Esse Pedro Páramo da democracia. Obrigado, Rulfo.

Fonte aqui

1.4.07

Patiologia I - Do ético ao etílico

Início de aula. Patiologia sempre foi uma disciplina em que até os mais tímidos demonstram todo seu potencial. A transição do ético ao etílico é rápida e, através das fotos, pode-se percebê-la com facilidade. Viajem conosco pelo mundo etílico da Patiologia I - a aula-festa (festa-aula?) que abalou a FFCH.



Começa o aquecimento no pátio. As pessoas, como pode se perceber em seus rostos de intelectuais, discutem Kant, Marx e Weber.



Quatro indivíduos alegres comemoram e um filósofo (agachado) divaga sobre o porque da pedra não ser considerada um ser pensante.


Aqui começa o ridículo. Três camaradas vão tirar uma foto e um penetra fica se jogando atrás, pulando para lá e para cá, desesperado por um minuto de fama.



Esse é o tipo de gente que frequenta a festa de Ciso: loucos! Depois da festa o Juliano Moreira conseguiu resgatá-lo.



A animação foi tanta que percebe-se o êxtase no rosto da dançarina.



Poderia ser um quadro de Salvador Dalí.


Bebemoração.



A egoísta queria o suco gami só para ela.





Os animadores: Bando do Velho Chico, Felipe e Silas, respectivamente (sempre quis usar essa palavra).


O suco gami mais de perto.



Na loucura também há espaço para o amor.



Ó paí, ó.



Enquanto todos dançavam forró, esses pareciam estar no arrocha.



Ó a boquinha do primeiro.


Esse é outro fugitivo do Juliano Moreira. Ainda não resgatado, está assustando a população soteropolitana.




Você pensa que cachaça é água??




Animação, zueira, poeira, cerveja.


Olha o trenzinho da alegria.



Conversando sobre a exploração capitalista.



Todo mundo no escurinho...


Rolou até início de ménage à trois. Depois terminaram em um lugar mais aconchegante.



O excelentíssimo Prof. Marco Tromboni (chefão geral do curso) caiu no forró com a Miss Patiologia I.



Gente, mais gente e mais gente.


Mais um casal de dançarinos. Esses dançam tango.



Esse nem esperou a perna ficar boa!


Mexe e remexe.

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